11 setembro 2018

  Faltando poucas horas para amanhecer, escuto o som da chuva querendo cessar. Lembro de alguns anos atrás, quando me encontrava na mesma situação, ouvindo a chuva distante, ou a música de alguma festa que insistia em ir longe, ou até mesmo o som de algum animal noturno. Mas o que eu mais gostava de ouvir era a voz dos meus pais conversando no quarto ao lado. Conversavam por horas, sobre o que fizeram, o que viveram, lembranças, problemas, planos. E eu pensava que um dia seria eu com meu marido, conversando sobre nossa vida, assim como meus pais faziam.


  Pré adolescente, com a vida inteira pela frente, conseguia me acalmar ouvindo aquelas vozes, sabia que eles estavam logo ali ao lado e acordados caso eu precisasse, me permitia dormir. Mas hoje, adulta que sou, não que me sinta adulta, mas é o que o número insiste em proferir, não ouço mais as vozes. Tento fazer o máximo de silêncio possível para ouvir meus pais ao lado, mas nada escuto. As noites em claro, ou noite com pesadelos é o que me resta, não tendo mais a vida toda pela frente e não mais sentindo-me protegida, tenho medo. Há muito se foi a ideia de me deitar e conversar com algum futuro marido, pois casar já não é mais uma ideia fixa e falar não é mais uma opção agradável.

  Agora, em poucas e raras ocasiões, só a chuva que resta, para aninhar e trazer meu sono, talvez seja um tipo de conversa, alguma coisa ela tenta me dizer.
-T

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